Estava parado quando a conheci. Daqui do alto, nesse lugar sagrado, observava de longe aquela pressa que a movia, mas não a deixava sair do lugar. Ainda pequena, ouviu dizer do mundo que tinha de correr. Não sabia
pra onde e nunca parou para escutar. Passou a vida toda indo, poucas
vezes foi. Ansiava tanto pelas chegadas que raramente reparava no
caminho. Desatenta, cometia sempre os mesmos erros - e corria ainda mais
para fugir deles! Os ponteiros ensinaram que o mais importante era seguir em frente. Ela só não percebia que, como eles, andava em círculos. De tanto girar, ficou tonta. Não resistiu
aos vultos de suas próprias multidões. Agora era a vida que ventava sob
seus olhos! Com a vista embaçada, e sem conseguir abri-los direito,
foi obrigada a olhar para dentro. Há tanto tempo não se via, que quase não se reconheceu. Teve medo de nunca se encontrar - e quem a esperaria? Mas lá no fundo, diante da eternidade, percebeu que o tempo nem existia. Não havia relógios para ditar a hora certa de crescer e seus aniversários já não a pressionavam tanto a sair do casulo. Só o amor a libertava da vida presa na ilusão. E era por meio dele que ela se descobria. A cada sentido resgatado, o vento
ia diminuindo até virar brisa. Foi quando olhou aqui pra cima e reparou
que eu ainda marcava a mesma hora desde que viu a sua vida passar. Não vamos
falar em tempo perdido, até porque preso a números e ponteiros nunca
ando para trás. Mas, deste dia em diante, ela nunca mais me trocou as
pilhas. Passou anos alimentando ansiedades e expectativas e pela
primeira vez teve o controle de suas vontades no coração. Hoje, sabe que todo despertar vem de dentro e espera, pacientemente, que o mundo respeite o ritmo da sua caminhada.
0 Comentaris
Per causa dels recents atacs de missatges publicitaris, els comentaris necessiten verificació.